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Chás para dispepsia funcional
- 2 de junho, 2021
- Postado por: PratiEnsino
- Categoria: Fitoterapia Fitoterápicos Nutrição

A dispepsia funcional é um distúrbio funcional crônico do trato digestório e refere-se ao desconforto ou dor abdominal superior inespecífica persistente. É uma queixa bastante comum, estima-se que cerca de 40% da população tenha dispepsia funcional, sendo que no brasil pode variar de 19,5% a 44%.
Pode estar relacionada a causas orgânicas como o refluxo esofágico e/ou gastrite ou por hábitos alimentares inadequados, como o consumo excessivo de alimentos ricos em gordura ou mastigação incorreta.
O tratamento da dispepsia funcional é multifatorial e pode abranger dieta adequada, exercícios físicos, relaxamento e alguns medicamentos, incluindo inibidores da bomba de prótons e fitoterápicos.
Continue a leitura para saber as principais plantas medicinais que podemos utilizar na dispepsia funcional.

CRITÉRIOS DE DIAGNÓSTICO DA DISPEPSIA FUNCIONAL
Segundo os critérios de Roma IV, para o diagnóstico da dispepsia funcional os sintomas devem ter ocorrido nos últimos 3 meses, com início pelo menos 6 meses antes do diagnóstico. São eles:
- Dor epigástrica incômoda
- Queimação epigástrica incômoda
- Plenitude epigástrica incômoda
- Saciedade precoce incômoda
Além de pelo menos um dos sinais e sintomas citados acima, os indivíduos não devem apresentar nenhuma evidência de doença orgânica, sistêmica ou estrutural. E entende-se por “dor incômoda” aquela forte o suficiente para afetar as atividades cotidianas normais.
FITOTERÁPICOS NA DISPEPSIA FUNCIONAL
Os fitoterápicos consistem em plantas medicinais utilizadas no tratamento de diversas enfermidades e seus respectivos sintomas.
A fitoterapia faz parte da Política de Práticas Integrativas e Complementares (PICS) e os fitoterápicos são utilizados há milênios por diversas culturas e em diferentes países.
Segundo o Formulário Fitoterápico da Farmacopeia Brasileira e o Memento Fitoterápico, as ervas relacionadas ao tratamento da dispepsia funcional são:
- Achillea millefolium;
- Achyrocline satureioides;
- Arctium lappa;
- Baccharis trimera;
- Casearia sylvestris;
- Cinnamomun verum;
- Cynara scolymus;
- Curcuma longa;
- Lippia alba;
- Maytenus ilicifolia;
- Maytenus aquifolia;
- Peumus boldus;
- Pimpinela anisum;
- Plectranthus barbatus;
- Rosmarinus officinalis;
- Salvia officinalis (L.)
- Taraxacum officinale;
- Vernonia condensata;
- Zingiber officinale (Roscoe).
O QUE AS EVIDÊNCIAS CIENTÍFICAS MOSTRAM SOBRE O USO DE FITOTERÁPICOS NO TRATAMENTO DA DISPEPSIA FUNCIONAL?
Segundo Ferreira e colaboradores (2018), as principais plantas medicinais encontradas em estudos no tratamento da dispepsia funcional são:
PLANTA MEDICINAL | TIPO DE ESTUDO | PRINCIPAIS RESULTADOS |
Achillea millefolium | Revisão | Auxilia no tratamento da dispepsia por sua atividade colerética. |
Curcuma longa | Revisão | O efeito benéfico se deve a curcumina. No entanto, a biodisponibilidade por via oral é baixa. |
Pimpinella anisum | Estudo clínico,
randomizado, duplo-cego |
– P. anisum, numa dosagem de 3 g, 3x ao dia, tem o potencial de melhorar a qualidade de vida dos pacientes com dispepsia funcional.
– Reduz a severidade dos sintomas, mesmo após oito semanas do uso do fitoterápico. |
Zingiber officinale | Piloto
Estudo clínico Randomizado Duplo-cego |
Uso de 500 mg da raiz em pó de gengibre pode prevenir sintomas como náusea e vômito causados por drogas antituberculosas. |
Fonte: Adaptado de Ferreira e colaboradores (2018). |
Cynara scolymus (alcachofra)
O princípio ativo da Cynara scolymus (alcachofra) parece ter efeito hepatoprotetor, regulador de lipídeos e hepato estimulante, por ser responsável pelo aumento da secreção biliar.
Além disso, há estudos que comprovam a eficiência da planta para flatulência, dores abdominais e náuseas. Utiliza-se as folhas secas por meio de infusão: ingerir 1 xícara antes de cada refeição.
Baccharis trimera (carqueja)
A Baccharis trimera (carqueja) possui atividade hepática com destaque na ação hepatoprotetora e colagoga, devido à presença de flavonoides, em especial a hispidulina.
Nesse caso, é orientado que as folhas secas sejam preparadas em infusão, com doses diárias (1 xícara) de até três vezes ao dia.
Achillea millefolium (mil-folhas)
De acordo com um estudo publicado no The Journal of Membrane Biology, a Achillea millefolium, conhecida de forma popular como mil-folhas aparenta ter efeito favorável na dispepsia devido à sua função de sua atividade colerética, aumentando assim a secreção biliar e, dessa maneira, auxiliando na digestão dos lipídios. No entanto, os pesquisadores não citaram doses, tempo de tratamento, e tampouco efeitos colaterais e adversos.
De acordo com o Formulário de Fitoterápicos da Farmacopeia Brasileira, é indicada a infusão de 1g a 2g da Achillea millefolium seca em 150ml de água, devendo o chá ser ingerido 3 a 4 vezes ao dia entre as refeições.
Este mesmo documento adverte que o uso da planta deve ser evitado em pessoas com úlceras gastrointestinais, oclusões das vias biliares e em crianças menores de 12 anos. Entre os efeitos adversos e colaterais podem ocorrer reações alérgicas, cefaleia e inflamação.

INFUSÕES PARA O CONTROLE DA DISPEPSIA FUNCIONAL:
- Bardana (Arctium lappa L.)
Componentes | Quantidade | Raízes secas 2,5g/ água q.s.p. 150mL |
Advertências | Doses excessivas podem interferir na terapia com hipoglicemiantes.
Deve ser evitado o uso durante a gravidez e lactação |
Modo de usar | Uso interno.
Acima de 12 anos: tomar 150mL da infusão, logo após o preparo, duas a três vezes ao dia |
- Guaçatonga (Casearia sylvestris Sw)
Componentes | Quantidade | Raízes secas 2-4g/ água q.s.p. 150mL |
Advertências | Deve ser evitado o uso durante a gravidez e lactação |
Modo de usar | Uso interno.
Acima de 12 anos: tomar 150mL da infusão, 5 minutos após o preparo, duas a três vezes ao dia |
- Canela (Cinnamomum verum)
Componentes | Quantidade | Raízes secas 2-4g/ água q.s.p. 150mL |
Advertências | Não usar em gestantes e lactantes e em pessoas com hipersensibilidade a canela e bálsamo-do-peru. Podem ocorrer reações alérgicas de pele e mucosas |
Modo de usar | Acima de 12 anos: tomar 150mL da infusão, 10 a 15 minutos após o preparo, após as refeições. |
- Alcachofra (Cynara cardunculus L.)
Componentes | Quantidade | Folhas secas 1g/ água q.s.p. 150mL |
Advertências | O uso é contraindicado para pessoas com cálculos biliares e obstrução dos ductos biliares.
Não utilizar em caso de tratamento com anticoagulantes. Evitar o uso em pessoas alérgicas ou com hipersensibilidade à alcachofra ou plantas da família Asteraceae |
Modo de usar | Acima de 12 anos: tomar 150mL da infusão, 10 minutos após o preparo, antes as refeições. |
- Espinheira-santa (Maytenus officinalis)
Componentes | Quantidade | Folhas secas 3g/ água q.s.p. 150mL |
Advertências | Não utilizar em gestantes e lactantes |
Modo de usar | Acima de 12 anos: tomar 150mL da infusão, logo após o preparo, 3 a 4 vezes ao dia |
- Alecrim (Rosmarinus officinalis L.)
Componentes | Quantidade | Folhas secas 2g/ água q.s.p. 150mL |
Advertências | Não usar em pessoas com gastroenterites e histórico de convulsões.
Não utilizar em gestantes. Doses acima das recomendadas podem causar nefrite e distúrbios gastrintestinais. Não usar em pessoas alérgicas ou com hipersensibilidade ao alecrim |
Modo de usar | Acima de 12 anos: tomar 150mL da infusão, 15 minutos após o preparo, 3 a 4 vezes ao dia, entre as refeições. |
- Salvia (Salvia officinalis L.)
Componentes | Quantidade | Folhas secas 3g/ água q.s.p. 150mL |
Advertências | Não usar em gestantes e lactantes.
Não usar em pessoas com insuficiência renal, hipertensão arterial e tumores mamários estrógeno dependentes. Não ingerir a preparação após o bochecho e gargarejo. Doses acima das recomendadas podem causar neurotoxicidade e hepatotoxicidade |
Modo de usar | Acima de 12 anos: tomar 150mL da infusão, 10 minutos após o preparo, 2 a 3 vezes ao dia, após as refeições. |
- Gengibre (Zingiber officinale)
Componentes | Quantidade | Rizomas secos 0,5-1 g/ água q.s.p. 150mL |
Advertências | O uso é contraindicado para pessoas com cálculos biliares, irritação gástrica e hipertensão arterial.
Não usar em caso de tratamento com anticoagulantes. Não usar em crianças. |
Modo de usar | Acima de 12 anos: tomar 150mL da infusão, 5 minutos após o preparo, 2 a 4 vezes ao dia. |
CONSIDERAÇOES FINAIS
O tratamento da dispepsia por meio das plantas medicinais pode amenizar os sintomas da dispepsia funcional.
No entanto, uma das principais limitações dos fitoterápicos é a falta de padronização tanto na quantidade quanto na qualidade dos ingredientes. Por esse motivo, os efeitos fisiológicos e clínicos da fitoterapia podem não ser consistentes.
Sendo assim, cabe ao prescritor o manejo correto das ervas medicinais e o domínio de seu conhecimento. Para mais informações, visite nosso blog e veja mais sobre nossos cursos em nutrição.
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REFERÊNCIAS
AKRAM, M. Minireview em Achillea millefolium Linn. The Journal of Membrane Biology. v.246, p.661-663, 2013.
BERNARDO, C.; SILVA, L.; CANOVA, L.; SILVA, A. Tratamento da dispepsia pelo uso de plantas medicinais. III Simpósio De Assistência Farmacêutica. 2015.
BRASIL. Formulário de Fitoterápicos. Farmacopeia Brasileira. 2 ed. ANVISA: Brasília. 2021
FERREIRA ET al. O tratamento da dispepsia funcional na atenção primária à saúde: uma proposta de fitoterapia. R. Saúde Públ. Paraná. 2018 Jul.;1(1):116-122.