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Alcaçuz na Endometriose: há benefícios?
- 28 de fevereiro, 2022
- Postado por: PratiEnsino
- Categoria: saúde da mulher Pós-graduação

Um método alternativo de tratamento da endometriose é a fitoterapia. O uso de alcaçuz na endometriose é citado em diversos estudos por sua capacidade antioxidante e anti-inflamatória nas células endometrióticas.
Seu uso para tratar sintomas da doença é bem descrito na literatura chinesa.
A endometriose é uma doença ginecológica caracterizada pela formação do endométrio fora da cavidade uterina.
A endometriose acomete mulheres a partir da 1ª menstruação e pode se estender até a última, sendo uma das principais causas de infertilidade feminina.
Acredita-se que a menstruação retrógrada com subsequente formação de aderências, invasão e neovascularização dê origem à ocorrência de lesões de endometriose.
Os locais mais comuns para implantes endometriais são os ovários, fossa ovárica, ligamentos útero-sacros e fundo de saco posterior.
Sabe-se que em mulheres com endometriose, o crescimento das células endometriais na cavidade peritoneal é induzido por mecanismos inflamatórios. Então o uso de fármacos anti-inflamatórios são sugeridos para controlar o crescimento da endometriose.
No entanto, pesquisadores buscam encontrar condutas terapêuticas mais naturais para o controle, prevenção e tratamento da doença. Pois associado a isso, há grande dificuldade em encontrar medicamentos no mercado que sejam úteis para a infertilidade associada à endometriose. O alcaçuz é um fitoterápico que tem sido sugerido nesse sentido.
Alcaçuz (Glycyrriza Glabra)
O alcaçuz é uma planta medicinal conhecida também como Glicirriza, Salsa, Regaliz, Pau-doce ou Raiz-doce, e é frequentemente utilizada no tratamento de problemas respiratórios.
As sua propriedades são conhecidas há mais de 3000 anos pelos egípcios e gregos, que apreciavam seu sabor suave e adocicado. É originário da Europa Meridional e do Oriente. A planta é cultivada em campos e tem grande facilidade de adaptação.
O nome científico é Glycyrrhiza Glabra. A raiz de alcaçuz contém triterpeno, saponinas, flavonoides, isoflavonoides, hidroxicumarinas, esteroides e óleo volátil. Substâncias que garantem ao alcaçuz, propriedades potencialmente anti-inflamatórias.
Alcaçuz e suas propriedades anti-inflamatórias e antioxidantes
A capacidade anti-inflamatória do alcaçuz tem relação com a inibição de prostaglandinas e macrófagos peritoneais. Foi observado que a glabidrina e isoliquitirigenina, são capazes de inibir a secreção de prostaglandina E2 estimulada por lipopolissacaridases em macrófagos de murinos.
A isoliquiritigenina é um flavonoide natural isolado da raiz do alcaçuz (Glycyrrhiza uralensis) e da chalota (Allium cepa). Suas atividades antioxidantes, anti-inflamatórias, antiproliferativas e antitumorais já foram demonstrados em diversos estudos.
Em relação à atribuição da capacidade antioxidante do alcaçuz foi observado em estudos in vitro um aumento significativo do nível de enzimas antioxidantes.
Foi identificado elevação nos níveis de superóxido dismutase e a catalase, além do teor de ácido ascórbico no fígado. Tais efeitos estão relacionados à presença de ácido fenólico e ascórbico na raiz.
Os diversos compostos fenólicos presente no alcaçuz são capazes de:
- Auxiliar na eliminação de espécies reativas de oxigênio
- Quelar metais
- Capacidade redutora
- Atividade de antiperoxidação lipídica.
Estudos sobre o uso de alcaçuz na endometriose
Um estudo experimental no controle da endometriose induzida em ratos. Comparou os efeitos do extrato de alcaçuz (3000 mg/ kg/ dia, por via oral), um inibidor da ciclooxigenase-2 e um análogo do hormônio liberador de gonadotrofina.
Os autores verificaram que o alcaçuz diminuiu o crescimento e os graus histopatológicos dos implantes endometriais transplantados. Apresentando-se como potencial alternativa terapêutica para a endometriose.
Um estudo publicado em 2020 na revista Phytomedicine investigou os efeitos da isoliquiritigenina na endometriose in vivo e in vitro. Os pesquisadores induziram cirurgicamente a endometriose em camundongos fêmeas. Sendo posteriormente tratadas com isoliquiritigenina ou placebo por 4 semanas.
Como resultado, os autores verificaram que a isoliquiritigenina inibiu a viabilidade, migração e proteínas relacionadas à endometriose (células End1 / E6E7). Além de reduzir o volume e o peso das lesões endometrióticas, inibiu citocinas inflamatórias e induziu a apoptose das lesões para melhorar a endometriose.
Escassez de ensaios clínicos
Observa-se a escassez de resultados clínicos robustos que relacionem o uso do alcaçuz na endometriose.
Não foram encontrados ensaios clínicos randomizados e controlados por placebo na busca no MEDLINE. Fator que torna a utilização do alcaçuz para o controle e tratamento da endometriose uma alternativa experimental, sendo necessários estudos maiores em qualidade e quantidade.
Por tratar-se de um método fitoterápico, sua prescrição deve ser realizada por um profissional capacitado e sua utilização não deve ser indiscriminada, uma vez que o alcaçuz pode trazer efeitos colaterais.
O alcaçuz não é recomendado para ser usado por mais de 6 semanas. Complicações como hipocalemia, hipernatremia, edema, hipertensão e queixas cardíacas estão associadas ao uso prolongado de alcaçuz.
Além disso, é contraindicado para grávidas, mulheres em fase de lactação. E também indivíduos com anemia, pressão alta, glaucoma, problemas cardíacos ou que usam anticoncepcionais orais e remédios para reposição hormonal.
Referências
JAHROMI, B.N.; FARROKHNIA, F.; TANIDEH, N.; KUMAR, P.V. et al. Comparing The Effects of Glycyrrhiza glabra Root Extract, A Cyclooxygenase-2 Inhibitor (Celecoxib) and A Gonadotropin-Releasing Hormone Analog (Diphereline) In A Rat Model of Endometriosis. International Journal of Fertility & Sterility. v.13, n.1, p.45–50, 2019.
HSU, Y.; CHEN, H.; CHIANG, Y.; CHANG, L. et al. The effects of isoliquiritigenin on endometriosis in vivo and in vitro study. Phytomedicine. v.77, p.153214, 2020.